Por Mariana Vedder
Sorri como há muito não sorria. E ela me conheceu tão bem, que a tarde terminou com um beijo leve. Com gosto de chocolate. Chocolate com avelã e um brilho no olhar. Estremeci quando toquei suas mãos na despedida. Uma mistura de mistério e contentamento. As famosas borboletas povoaram meu estômago. Eram muitas. Trocamos e-mail e telefone. Voltei para casa de ônibus. Eu sabia que demoraria mais. Não importava. Retornei minha leitura. Viva Sartre! As sardas do rosto dela não saíam da minha cabeça. Algo como fogo. Que hipnotiza e deixa marcas. E naquela mesma noite decidi ficar em Paris. Mesmo sem saber como seria o futuro. Chegando em casa, liguei a secretária eletrônica. Apenas uma frase dela: ‘’nos vemos amanhã no mesmo lugar’’. Gostei do jeito como ela me tinha nas mãos a sensatez e segurança. Parecia mesmo saber o que fazia. Parecia ter a solução para o meu caos. No dia seguinte, cheguei antes na praça. Sentei no mesmo canteiro. E ali fiquei a esperar. Um tempo dolorido arranhava minha garganta enquanto eu esperava. Uma espécie de intuição. Será que confundi o horário? Será que ela já havia passado? Até hoje não sei. E estou aqui na mesma espera. A mesma de 2 anos atrás. Como se o dia seguinte fosse sempre hoje. Os e-mails sem resposta e o telefone que só chama são como seqüelas do meu cotidiano dolorido. Estou sempre aqui à sua espera. Com o mesmo livro de Sartre nas mãos e o mesmo sorriso no canto dos lábios. Agora já contaminado pela calma que só o desespero é capaz de provocar. Estou sempre aqui; com o mesmo lenço que secou seus olhos. E o mesmo transe que nos tornou um só. Pelo menos na leveza daquele beijo adocicado.
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