4 de jun. de 2007

Re: Dólares. Brasil.


Por Inês Nin


Como é bom receber notícias suas. Aqui em Porto Alegre as coisas não são vistas de modos muito diferentes, mas devo dizer que mantenho o bom-humor. Daquela época até hoje muita água rolou, e minhas ilusões permaneceram somente ilusões, que ilustram as utopias e também a ingenuidade de tão saudosa etapa da vida. Você e todos os que faziam parte da minha vida naquela época ainda me são de certa forma muito presentes, como uma parte de mim que representou grandes esperanças e desejos, juntamente com umas tantas descobertas.
Ao mesmo tempo, devo dizer que admiro muito mais a pessoa que sou hoje. Se naquela época não havia como sermos muito diferentes, uma vez que as cores todas pareciam vivas e definidas, hoje vivemos uma época de nuanças, disfarces, e como conseqüência disso tudo, descrença. Mas, justamente por isso, me parece que viver nestes dias de incertezas e decepções é de fato muito mais complexo e, por isso, de algum modo enriquecedor.
Talvez a única coisa que se possa ver com clareza é que as nossas utopias falharam, todas, o que demonstra, ainda que com o peso das descobertas, que acreditávamos poder dar soluções relativamente simples à coisa mais complicada, que é a política. E, claro, conseqüentemente, às nossas vidas.
Se viemos de um tempo em que usar drogas representava a “liberação da mente” e nos era uma subversão contra o sistema, hoje se pode notar que os jovens que ainda encaram a coisa da mesma forma nos parecem perdidos, completamente perdidos. Seria isso um sinal da idade? Creio que não. Aos 36 anos, mesmo estando perdendo cabelos a uma velocidade assustadora (tenho procurado aceitar o fato de que, sim, herdei um gene recessivo que me acabará com os cachos, antes mesmo de perderem a cor), seria idiota pensar da mesma forma. Minha calvície não vai deixar de acontecer porque eu não a desejo, e esta, como umas tantas coisas, temos que aceitar.
Tenho muita vontade de poder revê-los assim que possível, e conhecer a tua menina! Uma filha de vocês dois só pode ser a criança mais adorável; foram os largos sorrisos de ambos o que permaneceu mais claramente impresso aqui na minha memória. Me deixa alegre saber que ainda estão juntos.
Eu, por aqui, estou solteiro desde o rompimento com Olívia, gostaria que você pudesse tê-la conhecido. Após oito anos, a relação simplesmente se desfez, e quando ela veio comunicar-me que iria fazer doutorado na França, apenas a deixei ir. Há coisas e pessoas na vida, que, descobri, temos é que deixar passar. Não conseguiria me imaginar agindo de outra forma.
As coisas aqui não andam muito fáceis, mas tenho me surpreendido diariamente com uma vontade de viver efervescente. Sinto-me disposto a resolver os maiores problemas da maneira mais simples e, até agora, tenho sido bem-sucedido. Quando leio os jornais, confesso que um ceticismo me toma freqüentemente, mas ele não ocupa todo o espaço. Até entender para onde vai todo esse lamaçal, observo apenas, e cuido do que está ao meu alcance. O meu voto hoje é nulo, Augusto, e já é despreocupadamente que te afirmo isso. Nossos parâmetros não podem ser os mesmos que antes. Todas as fórmulas que foram inventadas – está provado – não surtem mais efeito.
É com uma saudade gostosa que me despeço. Prometo ir ao Rio assim que possível! Há tanto a (re)ver por aí. E por tudo é que te digo: concentre-se nos sorrisos. O resto, depois descobriremos.



Grandes abraços,
Tonico.

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