4 de jun. de 2007

Re: Oxaca

(Para ler a carta anterior: http://textosoficinauff.blogspot.com/2007/06/re-oxaca.html)

Por Juliana Risi
Querida Mari,

Só tive sua carta em mãos no dia 8 de novembro. Acredito que você tenha colocado o CEP errado. Fui ao correio reclamar, afinal, disse-me no e-mail (com as fotos) que havia mandado em outubro.
Desculpe os vinte dias de atraso. Sabe como anda minha vida! Mostrei sua carta para os meninos. Estão cada qual mais Zapata. O que você – nem tampouco eu – imaginaria é a proporção alcançada pelo seu pedido, o que ajuda a explicar a demora da minha resposta. A esquerda e os nem tão esquerda assim se empolgaram com a causa. E vai além! A fecilidade da comunicação proporcionada pelos meios fez com que grupos de todo o Brasil se mobilizassem. Agora, contam-se 15 mil integrantes que participam de manifestações em frente aos consulados do México. A parte mais emocionante vem agora: parte dos grupos está planejando uma ida ao México, exatamente para a virada do ano. Querem transformar o reveillon em uma espécie de caos. Conto com sua ajuda também. Alem do mais, poderemos nos ver e trapacear a saudade. Imagine milhares de brasileiros na Praça Central! Parece-me que o povo já está tão desesperançado dos problemas daqui que buscou uma causa não-perdida para lutar. Afinal, quando Collor, Maluf e até Clodovil (que deixa de ser piada depois dos outros dois) se elegem, instala-se a sensação de cansaço e desesperança.
Confesso, pois, que minha viagem se justifica por sua causa. As aulas sem você me soam estranhas, apesar de todo aprendizado, claro. Paula, Ana e Camila? Não... Cansei de “patricinhas” imóveis para não desfazer o cabelo. Eva e Angélica? Evangélicas, não me suportariam “pecadora”. Edith e Júlia? Passam o dia em casa. Não saem, e além do mais, detestam futebol, delicadas demais para correr, podem até quebrar as pernas. Cassandra e Ed? Brutas demais – acho que me quebrariam as pernas! Não tem ninguém nesta turma, Mari. As caricaturas dos professores, a vontade de mudar o lugar em que vivemos, o sorriso instantâneo e involuntário do nosso encontro... Faltas nunca findas de uma amizade indescritível a uma distância desarvorada.
Lembra-se de toda manha?\uma corrida desesperada até o ônibus e uma promessa ofegante: “a partir de amanhã vamos levantar mais cedo...” E a volta? Sem a minha companheira de ônibus...
Já arrumei uma menina para ocupar seu quarto, assim não pago sozinha. Calma! Por seis meses, eu sei! O plano para o inverno permanece, e a entrevista com Aparecida Moraes – como havia pedido – já está marcada.
No mais, vou levando... “a vida segue sempre em frente, o que se há de fazer??”
Seu gato está sumido desde a sua partida. Coloco leite toda noite para ver se ele volta, mas é sempre um malhado malandro que se aproveita.
Eu, Guto e Caco só falamos em você. Acho que faz parte do nosso “luto”. E claro, eles também confirmaram os planos de julho.


“Passa tempo
bem depressa,
Não atrasa,
Não demora”

Vinicius de Morais

Seis meses. Desde o ginásio juntas e pela primeira vez ficamos longe.
Minha melhor amiga, recolhida do mundo, à pinça, para entrar no baú dos grandes amigos.


Sinto saudades...
Abraços e beijos na bochecha,
Juliana


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