4 de jun. de 2007

Escrever

Por Mariana Vedder

Eu estava no caminho do supermercado para casa. Pode parecer idiota, mas é um dos percursos que mais me fazem pensar. Estava tocando "O Poeta Está Vivo". Lembrei-me de uma frase que ouvi muito durante o Ensino Médio: "Quem não lê, não escreve". A partir daí entrei num debate interno. Eu tenho encarado o mundo ultimamente como a era da relativização das coisas; a época em que vivemos parece marcada por este processo. Então comecei a pensar: "Seria esta mais uma questão relativa? Uma questão de opinião?".
Ler e escrever, para mim, são partes de um mesmo plano, e não necessariamente se completam ou se contrapõem. Fico maravilhada – sim, pode ser excesso de sensibilidade, mas quem se importa? – quando leio um texto e sinto que uma parte do coração do autor foi entregue junto à tinta da caneta. E pode não ser apenas o caso de saber escrever bem ou de acordo com determinada forma. Eu vejo como algo muito além disso, Não sei se parte do intelecto, ou da alma. Mas garanto que isso tudo não vem do simples fato de o autor ler ou não Machado de Assis, Shakespeare ou qualquer outro.
No entanto, não posso deixar de admitir que a leitura, como parte do mesmo plano da escrita, também é uma vocação. Algo louvável. Se permitir emocionar com algo que, inicialmente, não fazia parte do seu interior, do seu cotidiano. Ou mais ainda, ser capaz de sentir, de se entregar. Não falo apenas da poesia, textos de cunho introspectivo, mas sim dos mais mirabolantes romances, ou até contos eróticos clichês de banca de jornal.
Se entregar ao "ofício" da escrita, se colocar no papel, me parece tão plausível quanto compreender e, inclusive, sentir o outro ao ler um texto. E é por isso que considero os textos de amor como os mais complexos. Dificilmente as pessoas pensam o amor de forma igual ou mesmo parecida. O autor merece mérito por se fazer compreender e por tocar o outro; assim como o leitor que sente – ou mesmo imagina – o que o autor tentou transmitir, mesmo que interprete de outra forma, merece crédito.
E por que não dizer que um bom leitor pode ser ótimo escritor, e vice-versa? De qualquer forma, pode haver também o contrário.
Ah! E sobre a relação entre a música que tocava e as minhas lembranças, meu ensino médio foi todo Cazuza. :-)

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