Por Flavia Risi
Meu caro amigo,
Sei que já faz muito tempo... 1984. Diretas Já. Nos sentíamos heróis ilustres dos livros de História. Robespierre. Che Guevara. Simon Bolívar e San Martín. É, nossos nomes estariam lá... Nas últimas páginas do livro; Aquela parte que é vista só no final do ano, depois de percorrer o pau-brasil, o açúcar, o café... O império, a República... Marechais, presidentes... Ditadura e, enfim, nós. Os revolucionários de 1984. Tínhamos 14 anos e na sua casa planejávamos como íamos transformar o Brasil. Ensaiávamos capas e vôos... Super-heróis. É, super-heróis brasileiros...
Hoje, meu amigo, a liga da justiça usa outra cueca. Lembra daquela sunga vermelha que vestiam sobre o uniforme? A nossa de hoje não é mais vermelha. Porém, igualmente poderosa: é cheia de dólares.
Nosso super-herói, aquele mesmo que acreditávamos, hoje parece gordo e cansado. Exausto até mesmo para saber das coisas que acontecem. A Liga foi desestruturada. Existe um traidor, ou mais. Traidores porque nos fizeram colocar nossas próprias capas neles e, hoje, não se lembram nem mesmo da cor delas.
É caríssimo amigo. Não estou otimista.
- Homens com dólares na cueca?
- Não estou otimista.
- Pagar R$ 44,00 só de assinatura de linha telefônica?
- Não estou.
- Dentro de 50 anos os recursos naturais da Terra estarão esgotados?
- Não.
- Mensalão, Sanguessuga, compra de votos, “little Rose” e “little Boy”... Chacinas, tráfico, meninos de rua e homens de rua, crianças fora da escola, crianças mortas de formas inumanas, fome, tristeza...
- É... Tristeza. Impossível ser otimista. Será que meu neto saberá o que é Amazônia?
Hoje você está longe. Sinto saudades de você e da nossa coragem. Da nossa esperança e daquela ilusão. Não só a pátria, mas, o mundo foi traído. Nem mesmos nós, com as camisas amarradas no pescoço em arriscados saltos em “vôos”, poderíamos fazer alguma coisa...
Ivete e eu continuamos os mesmos que você tanto conheceu. A pequena grande novidade, que este mês faz 2 anos, ainda lhe é inédita. Talvez por cauda dela o medo do mundo tenha se transformado em pânico. Não agüento mais as cores de nossos super-heróis e não agüento mais a ausência da nossa revolucionaria dupla encapada.
Não sei se você lembra do Caco... Aquele que tocava violão e era o encantador das mulheres?! Hoje é tucano e vereador. Sempre que vem aqui em casa há discussão. As verdades absolutas e a cara de pau dele quando se fala em política... Irritam.
O resto da turma, como eu, está casada e distante.
Sinto saudade de você caro amigo.
Sinto saudade de nos dois em 84.
Quando você vem nos ver?
Muitos abraços, carregados do nosso humor,
Augusto.
Leia a resposta da carta em: http://textosoficinauff.blogspot.com/2007/06/re-dlares-brasil.html
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