4 de jun. de 2007

Como atuar politicamente nuna época de alienação?

Por Inês Nin

A alienação é necessária. E se não necessária, ao menos compreensível. É somente aparência, também, em muitos casos. Vem da descrença. E do estímulo ao não-pensar. Da rendição a uma realidade que nada, aparentemente, podemos fazer para mudar. Alguns dirão:

- Por que mudar?

Algo como um carpe diem. Só um entre tantos conceitos envelhecidos que são adotados hoje. Todos os fundamentos, teorias e práticas que vejo só de andar pelas ruas possuem profundas rugas. As vozes todas soam como ecos finitos, provocando risadas dos mais atentos, indignação de outros. Alguns ainda crêem. Dizem não ser no sistema, mas nos mecanismos de mudança existentes. São conhecidos como tal, mas não são nada além de parte dele. Protestos, greves, ONGs e demais maneiras de se organizar, todos foram incorporados pela sociedade, pelo sistema, pela política em geral.

O que é democracia? Democracia não existe. Meus pais, ao ouvirem isso, lembrarão da época em que a afirmativa era levada ao extremo, explicitamente. Tempos de polarização aqueles, drásticos em todas as suas medidas, de idéias determinantes e de repressão. Mas a verdade é que, passadas décadas, o que foi recuperado não chega a se aproximar da liberdade, agora sendo utópica em minhas palavras. Não seria ela sempre a utopia máxima? As utopias hoje soam todas ocas, e verdadeiramente o são.

Alienados são aqueles rendidos ao supracitado sistema, fiéis da sociedade de consumo e de suas muletas particulares. Adeptos da cultura do não-pensar, das opções mais óbvias e ao alcance. Às vezes, da sobrevivência. Em outros casos, de toda a exacerbação, desde o consumo até a própria inconseqüência de seus atos. Na maioria das vezes, no entanto, são pessoas as mais comuns, que trabalham para pagar as contas, casam, têm filhos, escrevem besteiras na internet (os que têm acesso), passeiam no shopping nos fins-de-semana. Assistem à televisão e votam porque têm que votar, votam porque é seu “direito” (e não obrigação), enfim, atuam dentro de seus limites do mais pleno conformismo.

Alienados também são aqueles, em geral jovens (mas também obstinados de idade mais elevada), que crêem em gritos de protesto ao invés de livros, em passeatas inúteis por causas distantes e em ideologias fora de contexto. É uma espécie de alienação talvez não amplamente reconhecida como tal, por estar disfarçada de engajamento político. Como os movimentos estudantis com mais fumaça que idéias, cada vez mais distanciados do chão.

E onde seria este chão? Talvez a maior pergunta que cabe aqui, inevitável para estes tempos. Muitos tateiam, mas ainda acredito ser o mais grave o fato de um número ainda maior de indivíduos acredita saber onde pisa. E se eles não sabem exatamente o que deve ser feito (justamente por ser a crença frágil e infundada), patinam em suas ações, uns realmente tentando acertar, ainda que sobre estruturas em ruínas.

- Os fins justificam os meios e seremos todos felizes – eu vou ganhar a minha fatia desse bolo, mesmo que a massa desande (tinha um ovo estragado).

Há os que dão risada de tudo, vestem máscaras espalhafatosas de cinismo e com eles vai tudo bem. Aliás, para o bem da economia atual, de tendências egoístas baseadas em idéias (supostamente) libertárias, todos os que têm os bolsos cheios estão safos, serenamente despreocupados. Para estes poucos afortunados, sempre haverá soluções. Liberdade, igualdade e fraternidade brindados com espumantes caríssimos, todos os anos!

E, afinal, como pode ser possível atuar na política com lucidez, neste contexto de disfarces e causas vencidas? A pergunta não se responde, mas reverbera no pensamento de umas tantas pessoas. Penso que não ser adepto de respostas prontas (para nada) pode ser um passo. Abrir-se a novas idéias que podem vir a parecer plausíveis, concretizáveis.

Em tempos de desilusão, de tentativas frustradas e fraudes cotidianas, resta sim o ceticismo. É tanto a alternativa fácil do ponto de vista da sobrevivência quanto a mais inevitável delas. Mas, que fique claro, não se trata de um ceticismo surdo e conformado. É um estar atento ao que acontece, sem perder de vista a si mesmo. Qualquer coisa que podemos mudar começa no que está aqui e em volta.

Nenhum comentário: