4 de jun. de 2007

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Por Gabriela Hazin

Não sei por que resolvi falar sobre isso agora. Uma sensação de angústia, dúvida de me sentir tão pequena diante do mundo; incapaz...Será? Não sabia. Nesse momento eu me sentia assim. Tentei achar resposta para vários problemas que me perseguiam; estava sem emprego há alguns meses e havia perdido a pessoa que mais amava há quinze dias do acontecimento desse dia: o meu pai.
Nunca conheci a minha mãe. Ela faleceu logo que nasci com uma hemorragia interna. Meu pai sempre cuidou de mim. Foi meu protetor, meu conselheiro, minha base para trilhar os meus caminhos.
Eu tenho uma filha; penso nela todo dia e o que posso ensiná-la. Sou separada. Mas isso não me abala; “Não era pra ser”, já dizia o meu pai.
Naquela manhã, eu saí para mais uma jornada de entrevistas; a situação não estava boa em casa, eu tinha que pagar as contas, colégio, alimentação. Não queria que nada faltasse para a minha filha de apenas 13 anos e já chegando para mim dizendo: “Mãe, eu te ajudo, eu posso arrumar algo para vender”. Não queria sacrificá-la a isso, não era justo; ela tinha que estudar; sempre defendi isso.
Depois de ver várias portas se batendo na minha frente, achei que tudo estivesse errado em minha vida. Afinal como eu iria sair dessa situação? Eu tentava entender mas não achava resposta; o mundo se fechou para mim e eu me vi presa.
Saí pelas ruas à noite naquele dia frio tentando buscar respostas. Eu achava que todos olhavam para mim e me chamavam com os olhos de incapaz, incompetente.
Me entreguei às drogas. Não sei como pude me render assim ao meu problema entregando a minha vida ao nada. Caminhei sem parar durante boa parte daquela noite; eu me sentia leve, deixando o vento me levar. Esquecera dos problemas, do mundo. Mas, quando vou atravessar a ponte e olho para aquele horizonte infinito de águas, quero que ela me leve, me possua.
Eu abri os meus braços e desejei que o vento me levasse, me guiasse para o caminho certo; vi o rosto da minha filha. Como pude fazer isso comigo e com ela? Eu me encontrava completamente dopada de uma substância que não me deixaria mais ver aquele sorriso da minha filha; as lembranças boas da vida. “Aterrissei” e continuei andando.
Busquei ajuda entre amigos e parentes próximos, consegui superar essa barreira. Hoje resolvi vir aqui contar isso para vocês, porque eu não cheguei a me deixar levar pelas drogas, mas poderia ter acabado com a minha história de vida prejudicando também as pessoas à minha volta. Sendo esse lugar uma terapia em grupo e por todo apoio que vocês me deram, deixo registrada essa parte da minha história. Obrigada.

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