4 de jun. de 2007

Encontro Marcado

Por Maria Gabriela Raposo

Um dia claro e muito quente na metrópole carioca. Em um banco de pedra, de costas para o Morro da Urca, uma mulher aparentando trinta e poucos anos aguarda enquanto toma uma água de coco. Calor intenso. Nenhuma brisa afasta o suor que desce pela testa de Monalisa. O sol arde intensamente. Mas o suor da jovem é frio. Ela olha em volta. Está segura. Há turistas, vendedores ambulantes e até crianças brincando a um metro de distância. Ela novamente olha ao redor. Levanta-se e procura uma lixeira. Sente-se quase feliz ao olhar a paisagem, a bela Praia Vermelha. Voltaria ali outras vezes.
O início de um sorriso é quebrado abruptamente quando pousa seu olhar sobre o banco em que sentava. Já havia alguém a sua espera.Uma figura conhecida vestindo um sobretudo preto e óculos escuros. Ela respira fundo e vai a seu encontro.
Monalisa senta-se ao lado do homem. Ele nem sequer vira a cabeça para olhá-la.
- Você tem idéia da temperatura do dia de hoje, André?
- Por volta dos 40 graus... – responde.
- E você realmente pensa que chamará menos atenção usando este sobretudo?! Estão todos olhando pra você! Você não está em um filme de suspense no frio europeu!
- É, você tem razão – concorda André, retirando cuidadosamente o casaco e pousando-o bem próximo de si.
- E como está se sentindo? – pergunta André, agora sim, retirando os óculos e fitando Monalisa com o azul mais profundo de seus olhos.
Mona estremece e continua:
- Como acha que me sinto? Anos esperando um telefonema seu. E quando isto finalmente acontece... é só por interesse que está aqui! Isto você terá que admitir se realmente quiser algo de mim.
- Há anos penso neste reencontro...- sussurra André, segurando as mãos de Mona entre as dele.
- Pare com isso! Já caí nessa sua armadilha uma vez e não cometerei o mesmo erro. Vamos falar de negócios. Trouxe o dinheiro? – rebate Mona firmemente.
- Está tudo aqui.
- Deixe-me ver.
André pega uma bela maleta Cavalier de couro preto e entrega a Mona. Ela abre. Há incontáveis notas de cem reais. Uma forte brisa bate, quase fazendo aquele tesouro levantar vôo. Mona fecha rapidamente a mala, evitando este inconveniente.
- Quer conferir? – pergunta André.
- Claro, ninguém suspeitaria caso observassem uma mulher contando inúmeras notas de cem reais! Como você é bom em não levantar suspeitas!
- E como você é boa me ironias! Onde está a fita? Ou alguém também suspeitará de uma fita de vídeo?
Monalisa pega a fita. Os olhos de André brilham estranhamente.
- Mona, eu te amo! Vamos sair daqui agora! Com o dinheiro que tenho aqui podemos construír uma vida juntos! Vamos, eu sei que é a sua vontade também.
- Do que está falando?
- Eu te amo, esqueça esta gravação e este dinheiro – atirando longe a maleta e a fita.
- André, o que está fazendo? Eu...eu não sei...
Por um pequeno instante Monalisa pensa na proposta de André. Este momento de hesitação era o que ele esperava.
Um batalhão da Vila Militar passa próximo ao casal, abrindo espaço e entoando hinos de amor à pátria. André aproveita o barulho, aproxima de si com um movimento rápido o sobretudo, saca uma arma, aponta-a para Mona e atira sem pensar. Mona dá um último suspiro. Aquela sim seria a última vez em que confiava em alguém, mesmo que somente por um instante.
Paulo pega o sue casaco, coloca sobre o corpo ainda quente de Mona, cobrindo o ferimento fatal. Olha em volta e esconde a arma. Ninguém o observa. As autoridades brasileiras sempre colaboram com crimes, até quando não sabem disto. Sem nenhum traço de arrependimento levanta e friamente apanha a maleta e a fita. Pensa no tempo que tem até descobrirem o corpo no banco da praia. Pausa rápida para a compra de uma água de coco. É realmente muito quente esta cidade. E caminha lentamente pela Avenida Pasteur lotada de turistas. O azul de seus olhos brilhando ao sol. André ainda murmura um “Bom em não levantar suspeitas”.

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