15 de jun. de 2010

O tempo que jamais vou esquecer

Por Isis Mesquita

É uma bela tarde esta de hoje em Paraty, o mar está particularmente lindo com o sol criando padrões luminosos nos lençóis aquosos, parecem mais diamantes. A única coisa que me incomoda é o picolé. Não sei por que a idéia de comprá-lo se sei que não tenho a competência de comê-lo quando venta, fico coberta por ele, mas o que parece é que o único lugar que fica sem é exatamente minha boca, mas enfim, isso não me atrapalha. Eu sei que a praia é o último lugar que deveria estar. Irei ouvir uns sermões do papai quando chegar em casa. Já posso até imaginar suas palavras.
Hoje me sinto tão nostálgica que as minhas memórias parecem até presentes. Fico me lembrando daquele verão que passamos na fazenda do vovô Augusto, era tudo tão perfeito, antes da minha vida se transformar nesta bagunça. A mamãe bebia aquele chá de tom ocre que cheirava à naftalina. Não entendo como ela podia sentir prazer em beber aquela joça, mas, como ela mesma dizia, “gosto não se discute”, não mesmo, sobre aquele chá eu nunca me atreverei a discutir.
Eu gostaria que o tempo tivesse pausado ali, ou que eu tivesse aproveitado mais aqueles momentos, eu me culpo, confesso que sim. Deveria ter ficado mais tempo com todos eles. Mas não havia como imaginar o que estava me esperando na primavera seguinte. Quando disse ao vovô que voltaria eu realmente pretendia. Mas a vida prega peças, é traiçoeira. Ele me manda cartas todas as quintas-feiras, não importa o que aconteça eu sei que terá uma carta em minha mesa quando chegar do colégio.
Eu fico sempre contando as historias daqueles dias para dona Jucélia, e ela até tentava me encorajar a voltar. Mas sempre como um choque de realidade ela se lembra do aconteceu e acaba me pedindo desculpas, mesmo que eu diga que estas são desnecessárias. Ela não sabe, mas eu mesma já cogitei voltar depois do que aconteceu, quem sabe eu volto. Acho que a mamãe iria gostar, mas eu não tenho vontade de fazer o que a deixaria feliz. Ela não pensou em nós quando fugiu com o capataz do vovô naquele mesmo verão. Fico pensando se deveria parar de descontar isso no pobre vovô Augusto, afinal ele não teve culpa, mas me lembro, eu sou apenas uma menina infantil de 16 anos que sente raiva e muita saudade de sua mãe e que apesar de nunca esquecer e sempre querer voltar àquele mesmo verão, queria que ele nunca tivesse acontecido. Foram os melhores e piores tempos de minha vida, e provavelmente jamais serei capaz de esquecê-lo.

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