27 de jun. de 2010

Minhas viagens

Por Amanda Cinelli

Aos 7 anos viajei pela primeira vez. Viagem de família com destino ao interior, para ver mais família. Ainda sinto comigo o cheiro do álcool que esquentava enquanto o carro, ligado na garagem, esperava terminarmos nossos últimos detalhes. A família, já não sinto.
Neste dia, descobri como era bom o sabor do vento da baía ao passar pela ponte. Foi a primeira vez que fechei os olhos de encontro ao desconhecido. Aos poucos, descobri que o vento, contundente e frio, rasgava e ruía o tecido do meu rosto macio de criança. Descobri que não me importava com a dor, sensação esquisita que todo mundo reclamava, mas que nunca me fez sofrer. Ao fim da viagem, descobri que também não me importava com despedidas.
Naquela semana, ganhei a primeira mala que me acompanha até hoje. Sair do eixo nunca me pareceu incorreto, se eu estivesse com ela. Quadrada, larga, marrom e de couro, ela nunca perdeu o cheiro de álcool da primeira vez. Os adesivos, que nunca se soltaram, e os rabiscos, feitos de caneta permanente, foram feitos mais tarde quando voltei a viajar, desta vez numa viagem até o estado vizinho, para ficar.
Mudei de eixo mais quatro vezes até quebrá-lo de vez. Me mudei para minha mala, recentemente remendada com tecidos de roupas antigas que achei na minha última mudança.

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