9 de jun. de 2010

Encontro

Por Viviane Roux

"Eu e ela, sentadas frente a frente. Nunca imaginei ser possível esse encontro, embora o tenha desejado bastante. Ela sentou na minha frente e ficamos alguns minutos observando, uma a outra. Três anos nos separavam, mas parecia que haviam se passado 15, talvez 40 anos. Eu olhava seus olhos, de um brilho que nem dá para descrever. Ela tinha olhos curiosos, ingênuos, de pessoa otimista que acredita em tudo. Os cabelos eram escuros e brilhavam assim como os olhos. A pele exalava uma vontade com cheiro de quem sabia para onde ia, e como ia. Estava assustada comigo, não podia imaginar como alguém se tornara assim. Na certa, logo ela, não poderia imaginar mesmo como alguém com sede de amor, de filhos, futuro, grana e prazeres se torna alguém assim, de olhos opacos. Ela parecia esmiuçar cada canto do meu rosto e, em determinado momento, nós duas entendemos que deveríamos ficar de pé para que nos observássemos melhor. Ela olhou assustada para os meus cabelos, é assim que vão ficar mesmo? As pontas com resquícios de tinta, o cabelo sem viço, quase morto. Ela também não devia estar entendendo aquela calça larga, as unhas sem cor e muito menos as rugas invisíveis ao redor dos olhos, eram elas as responsáveis pela aparência cansada. Olhou para mim, como ficou tão magra? E os seios que enchiam o sutiã, para onde foram? Como ficara tão magra e cansada?
Eu sabia que talvez ela nunca entendesse do que eu iria lhe contar, talvez só entendesse três anos depois. Alguém como ela jamais imaginaria o que eu tenho passado; falar de traição e de dor para essa menina é usar uma língua que ela não compreenderá tão cedo. Me doía por dentro acabar com os seus sonhos, mas, afinal, nos encontramos para isso mesmo.
Comecei a então conversar comigo mesma."

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