23 de jun. de 2010

Três músicas

Por Júlia Robadey

Ela não sabia como agir. Nunca havia passado por sua cabeça que um dia ele estaria ali, sentado no chão de sua casa, vasculhando seus vinis empoeirados. Isso depois de um pequeno acidente no trabalho, envolvendo um grampeador e a mão dele, fruto da distração rotineira dela. E ele estava ali, sorrindo.
Os dois conversavam sobre diversos assuntos. Eles se sentiam bem juntos, e nem sabiam. Em algum momento ele achara um vinil, relativamente novo. Ficou olhando para aquela capa simples e, ao mesmo tempo, tão bonita. Ele levantou, foi até a vitrola e botou na faixa oito. Era uma música tranqüila que dava uma certa nostalgia. Em ambos. A voz delicada da cantora ecoava na sala de uma maneira que envolvia aos dois. Eles se olham. Aquela música era sinestésica, tinha cheiro de terra molhada. Os dois concordavam.
Em seguida, as faixas um e doze foram escolhidas por ele. Elas traziam muitas recordações para eles. Talvez por isso ficassem calados, ouvindo. A voz era deliciosa, cheia de uma pureza perfeita para aquele momento. Ele a convidou para dançar. Ela, meio envergonhada, aceitou. Não houve beijo, nem nada desse tipo. Aquele havia sido o primeiro e único encontro dos dois. Ele seria convocado para a guerra no dia seguinte. Mas ela sempre teria aquelas três músicas para lembrar dele e daquele dia.

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