10 de jul. de 2007

Reviravoltas e Algo mais

Por André Santos

28/12/2001

Nunca fui muito fã de diários. porém, nessa madrugada insone me veio uma súbita mudança de opinião. Após 2 horas revirando na cama tentando dormir, concluí que eu necessitava desse desabafo. Acho que nenhum parente ou amigo entenderia exatamente a minha angústia. O final do ano se aproxima e sinto uma imensa frustração. sensação de vazio, de incompleto, ao avaliar que mais um ano se vai. Nunca amei ninguém como a Roberta e parece que perdê-la foi o ponto de partida para um desequilíbrio total. Perdi meu emprego, me afastei de parentes e agora me vejo completamente entregue ao álcool. Para falar a verdade, nem sei como estou conseguindo equilíbrio para desabafar. Talvez seja porque ainda está na metade da garrafa de conhaque, talvez porque, finalmente, caiu a ficha. Aos 27 anos me vejo fracassado e no fundo do poço.


02/01/2002

Aqui estou novamente. O “oba-oba” do ano novo me fez perder o foco. De nada adiantou a minha reflexão de dias atrás, volto a desabafar muito mais assustado. A sensação de quase morte pelo uso excessivo de drogas e álcool nos primeiros minutos de um ano é triste, mas não posso desprezar o valor que está tendo para mim. Aquele apagão foi decisivo. Ao assistir ao filme da minha vida e acordar de um coma alcoólico em um hospital público, decidi que a oportunidade de mudar o final não podia ser desperdiçada. E para isso não me basta lamentar, terei que agir. Superei o orgulho e resolvi buscar ajuda. Resolvi também abandoná-lo, por considerar que o diário de um viciado é feio e depressivo.


28/12/2006

Hoje foi um dia realmente emocionante. Me encontro nesse momento impressionado com as ironias da vida e do destino. Você permaneceu muito bem escondido esse tempo todo, foi esquecido. E exatamente 5 anos depois, na véspera da mudança, Sofia (minha esposa) encontra esses relatos. Quanta coisa aconteceu, quanta coisa mudou. Sem nenhum medo de superestimá-lo, finalmente compreendo o seu valor. Foi o ponto de partida da virada, sem dúvidas. Um homem de 27 anos se sentindo acolhido por desabafar com um diário. Sim, é possível. Tá certo que não tinha nada de bonito escrito, mas colocar no papel o que eu sentia foi decisivo para uma tomada de consciência. Depois de 3 meses internado em uma clínica, saí de lá me sentindo uma criança novamente. Reconstruí a minha vida e fiz tudo aquilo que tinha vontade. Aliás, o prazer de voar de asa delta é muito maior do que qualquer droga. Casei, arranjei o emprego dos meus sonhos e aguardo a chegada do meu segundo filho. Ao chegar em casa hoje, estressado, me deparo com Sofia emocionada e o diário aberto. Recebi o sorriso e o abraço mais sinceros da minha vida. Foram apenas 2 relatos depressivos. O suficiente para a reviravolta. Me sinto em dívida com você, mas uma dívida positiva. Passarei a relatar todos os acontecimentos marcantes daqui por diante, e com certeza serão vitórias a maioria. Constantemente voltarei a reler também as suas primeiras páginas, assim lembrarei o significado do aprendizado e o valor de uma vida saudável.


29/12/2006

Hoje o dia foi realmente movimentado. Mudança é sempre assim, não tem jeito. Ano novo, casa nova. Já era difícil morar naquele pequeno apartamento com um filho de 2 anos, agora que tem mais um a caminho tivemos que nos antecipar. Uma casa ampla com um belo quintal será muito mais aconchegante.


30/01/2007

Finalmente sabemos o sexo do nosso segundo filho: Uma menina. Sempre tive aquela apreensão de certa forma machista de que é muito mais difícil para um pai lidar com uma filha. Já imagino meus ciúmes do primeiro namorado. Brincadeiras à parte, tanto eu quanto Sofia estamos muito contentes com a oportunidade de ter um casal de filhos. O nome foi um belo consenso: Vitória.

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